Lá do alto conseguia ver-se toda a povoação. Era um fim de tarde, a esbarrar a noite. Ao fundo, por detrás dos montes, o sol deitava-se, imponente, e pintava o céu numa mistela de cores de fogo, contracenando com o azul forte e já escurecido da noite que chegava. Era um azul de mar, do mesmo onde o sol se ia juntar, lá longe.
À volta das árvores, a passarada juntava-se quase que em motim, e o barulho era ensurdecedor.
Subiu as escadas e sentou-se na varanda, dali conseguia sentir-se o calor que vinha da terra. Detrás da casa, vinha o som dos grilos, das cigarras, das rãs e toda a espécie de bicharada sonante. Quando era pequeno, por esta altura, já tinha feito o seu bunker na cave, e era por esta hora, ao fim da tarde, que os caçava... gri gri, gri gri a tua casa não é aqui... e escarafunchava com uma palheta de centeio para que o condómino saísse...Farejou no ar o cheiro dos paus das videiras e das giestas secas a queimar, e via mentalmente o brasido que iria grelhar a carne de vitelo que a Dª Aninhas mandara, para que provasse.
Lá dentro, ela tomava um duche. E, enquanto isso, ele pensava no que fazer: se ía já para dentro e lhe esfregava as costas, seguia caminho até às ancas, circulava as nádegas, voltava para trás, contornava-lhe os mamilos ensaboados, e numa descida rápida, lhe enxaguava o cabelo, vá, é um exagero, os pelitos da púbis... ou então, se, por outro lado, aguardava que ela saísse do banho, se vestisse, se perfumasse, e se penteasse, para depois, na sofreguidão dos seus movimentos, a voltar a despir. Lhe tirasse o vestido, a voltasse de costas para si e a deixasse apoiar as mãos na colcha de linho. Lhe afastasse a cueca, e deixasse escorregar um dedo, talvez dois e .... e as brasas, ai as brasas que esmorecem...!
Ainda dizem que a vida no campo é calma, sem stress, sem canseiras, sem problemas! É uma consumição, vocês sabem lá...!
Bem sei que os há, talvez ainda deitados na espreguiçadeira, vermelhos que nem camarões, que aguardam que o peixe morda o isco... bem sei..
Mas, eu, por mim, aqui bem longe do mar, das luzes, por detrás dos montes e lá para os lados onde, em tempos pré-históricos, dizem que deixaram umas pinceladas e umas gravuras, eu esfrego-lhe as costas, as ancas...
and so on,
and so on, depois corro a deitar mais umas achas na fogueira, e volto para lhe tirar o vestido, fazê-la dobrar-se sobre a cama...
and so on, and so on...
E as brasas???! ai as brasas....