segunda-feira, 18 de março de 2013

Lá fora na rua...



         O movimento, apesar de agitado, já não era o habitual. Menos trânsito, alguns lugares vagos para estacionar, armazéns com inúmeras placas a dizer: "ARRENDA-SE", com o nome das imobiliárias e diversos números de telefone, vítimas da assoberbada falta de clientela. O  café da frente, sem grandes carros à porta, tinha a esplanada vazia apesar do dia de sol, e o interior em muito se semelhante. Quase parecia o ambiente de uma pacata vila com uma área industrial, mas tratava-se de uma zona que outrora albergara grandes indústrias, muito emprego e um crescente movimento.

          Entretanto, lá dentro, ele estava sentado à secretária e pensativo olhava pela janela. Apoiou os cotovelos no tampo da mesa, virou a cabeça para o monitor, e suportou o queixo sobre a palma da mão, ficando com os dedos entre o nariz. Estava perdido por entre pensamentos escusos no marulhar do escritório, os telefones, agora também estes, mais sossegados, o ruído dos teclados, o entra e sai de gente, mas subitamente algo o acordou daquele vaguear disperso. Conduziu os dois dedos pelas narinas, cerrou os olhos e sentiu-lhes o cheiro. Inspirou. Sorriu e voltou a inspirar. Cheirava a ela. Cheirava a mulher.
Há meia hora atrás havia-se fechado na sala de arquivo com a Luísa. Tinha-a sentado sobre a secretária, puxara-lhe a saia para cima, e sentira-lhe a renda das meias de liga que sempre usava quando vestia fato de saia. Afastara-lhe a cueca de renda que imaginava preta, como sempre, e depois de sentir aquela máquina de combustão permanente entre as suas pernas, os lábios cuidadosamente depilados, o pequeno traço de penugem ao alto, pela púbis, fodeu-a com os dedos. Sabia a forma como a tomar, sabia-a de cor nos seus dedos e sabia que um rápido entra e sai, e um ágil e ainda mais rápido esfregar entre o clitóris a fariam ter um orgasmo. E teve-o.
Ao sair de dentro dela, limpou os dedos na cueca, passou as mãos pelas pernas até aos joelhos, beijo-a e voltou costas, saindo da sala, deixando-a a compor-se.

          Um camião TIR assinalava ruidosamente uma manobra: pi...pi... pi... pi... pi..... O chefe de armazém na sua bata cinzenta ajudava com as mãos, indicando a direcção. Estava difícil entrar de marcha atrás no armazém e uma fila de carros aguardava passagem calmamente, sem reclamar o tempo decorrido. Sinais do tempo perdido, sinais de uma vida arrastada, sinais do vagar e da falta de expectativas.








25 comentários:

  1. Intervalo para almoço interessante... :)

    ResponderEliminar
  2. Anónimo18.3.13

    gostei...
    o cheiro que fica nas mãos, em nós, é a doce e amarga lembrança de que já acabou.

    bravo, zé, escreves bonito :))))

    nAn

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E tu, carago??? Fugiste porquê? Ai a merda, pá!

      Eliminar
    2. Anónimo18.3.13

      Ó querida Malena.... :((( às vezes é preciso fugir. limpar. começar do zero. sei lá. sou louca, é o que é :b

      regressei às origens, simplesmente uma anónima com um ene :)))

      Eliminar
    3. nAn,
      benvinda por estes lados!
      :)))))

      É um cheiro booooooooooom. É o cheiro a mulher, a fêmea, a c@ona!


      Malena, não fugi. Saí na altura certa. Nada mais ali podia acontecer. ;)

      Eliminar
    4. Anónimo18.3.13

      ??? ó diabo!!! sou eu, zé!!! a tua nAninha!!!! ai a porra! não me reconheceste? :(

      (acho que a Malena falava comigo, zé. acho :b)

      Eliminar
    5. Sei, mulher! Sei bem que és tu!
      Como nunca tinha visto por aqui a nAninha das origens, dei as boas-vindas. Sou educado, embora não pareça.

      Ahh ,pois era. não interessa, fica já respondido para quem pensasse que fugi.
      É o sono...
      :))))

      Eliminar
    6. Anónimo18.3.13

      ó :)))) miminho bom :)))

      Eliminar
    7. Falava com a nAn, claro! Tu lá fugias de uma coisinha alagada!!!! :P

      Eliminar
  3. Bom, como sempre ;)
    Esperamos por mais!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mais??!!
      Ahhh, muito me contas menina Solana.
      :)))))
      Para a próxima há mais... mi aguadji!

      Eliminar
  4. Anónimo18.3.13

    Sinais da crise, pá, primo.

    Até uma foda fica já pela metade. da-seeeeeeeeeee

    (vou já cantar a Grândola!)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pah, primo, para a próxima trocamos, ela fode-me com a boca.
      Mas sempre o tempo contadinho, sem hipótese!
      :)))
      Não cantes, olha que espantas as passarinhas.

      Eliminar
    2. Anónimo18.3.13

      Não digas que tens que picar o ponto p'ra mijar...


      Não conheces as minhas capacidades canoras, pah!
      (ao nível do melhor Relvas!) :))))))))

      Eliminar
    3. Oh primo, se fosse eu o chefe ali no sítio, até os punha, aos outros, a cantar a Grândola enquanto ela me afinava o instrumento. :)))

      Mas olha que umas coisas assim rápidas e, acima de tudo, imprevistas, são boas. E ajudam a desanuviar ;)

      Eliminar
  5. Anónimo18.3.13

    inspiradissimo! foi do tango...? ;)

    beijos :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nem por isso. São mais lembranças recentes. :))

      Eliminar
  6. Olá a todos :)

    Oh! Zé que inspiração :)

    ResponderEliminar
  7. My Dear, é sempre tão estimulante ler-te, pena que não o faças com mais regularidade.

    Beijo...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Liberdade, my darling, bons olhos te vejam.
      Diria o mesmo, é tão bom ler-te, pena é que não te mostres. :))

      Eliminar
  8. Cá está, um homem atento que aproveita a oportunidade quando ela surge.
    Gostei bastante de te ler. Obrigada.

    Beijo,
    Ana

    ResponderEliminar
  9. (e o nosso cheiro nos nossos dedos? :p)

    ResponderEliminar