" Trago no olhar visões extraordinárias, de coisas que abracei de olhos fechados..."
- Florbela Espanca
Tinha então ficado ali na puberdade, não é verdade? Ohh, a puberdade, fantástico momento das nossas vidas. Os bicos dos mamilos e uma dor incómoda, é verdade, só o toque da roupa e uma gajo ficava logo fodido. Lembro como se fosse... há muitos anos! Mas lembro. Confesso que o acho um pouco solitário, no entanto, não deixa de ser bom. Nós e as revistas, nós e os filmes, nós e as revistas, nós e os filmes... e até que chega o dia em que damos vida às revistas e aos filmes. Bom, não esperem por algo tremendamente romântico, bonito, singelo... eu acabo-vos já com a remelice: duas bombadas e está feito! Que é? Estavam à espera do quê?! Devem pensar que um puto, com uma madura, uma tia, ( na altura o pessoal ainda não se tratava assim, mas agora é o equivalente ), com doze anos de idade, a pensar que ia só para uns cuspes, uns apalpões ( boas mamas que elas tinha! ) e uns dedos enfiados na tarrachinha ( jesus, aquilo era uma fornalha! ) e chega lá e pronto tem que fazer o serviço completo, ou seja descer à fornalha... o calor e a humidade são fodidos... e está feito! Lamento! a vida é assim, do pó nasces e ao pó voltas, daqui a uns anos será o mesmo, é um facto! duas bombadas e está feito!
Bom, resumindo e acelerando: foi deveras precoce, valeu pelo acto ter sido feito a dois, e sai dali sem saber o que tinha exactamente feito e continuei inocente... na medida da inocência que se tem com aquela idade.
Aí por volta dos últimos anos do milénio e depois de terminada a licenciatura, assediado pela família o Zé enveredou pela carreira militar. O lema foi: "homens de ferro em botes de borracha". Mas a verdade é que os homens também vergam como a borracha e a saudade da terra, da família mais próxima, duma vida mais calma e mais preenchida me trouxe de bolta ao meu Porto, abdicando, quem sabe de ser Capitão de mar e guerra. Todavia, a minha veia de oficial e cavalheiro, deixou as suas marcas pela capital e deixou-as igualmente comigo, bem marcadas e que continuam presentes na minha vida.
Numa bela noite, na messe, já depois do repasto, foi-nos apresentada uma beldade, filha do Senhor Tenente-Coronel. Além de outras coisas, não menos importantes, mas que não vêm para aqui ao caso, não vão as minhas queridas e atentas leitoras corar, rejubilar e quem sabe fazer outras coisas quaisquer na primeira conjugação do verbo, mas a menina em questão introduziu o Zé na solidariedade. Confesso que ao início era apenas um pretexto para solidarizar mais intimamente com ela, mas depois, o gosto por estar presente na vida de quem as pessoas estão ausentes, foi crescendo e me levou às ruas da capital, ajudando os sem-abrigo.
Concordo que seja uma tarefa egoísta, para mim. Por me fazer sentir uma paz e uma bem-estar interior inegualáveis. Mas sei que, algures, por Lisboa e agora pelo Porto, faço bem, não só pela comida, pelo abrigo, pelo acolhimento e pelo vestuário, mas acima de tudo pela companhia que faço, e que de alguma forma preenche a solidão a que estas pessoas estão entregues.
É um projecto que abracei e ao qual me dedico, talvez de uma forma que apenas me é permitida porque ainda não constituí a minha família. Só desta forma me posso dar...
Não tenho no meu historial menção de ter reinserido alguém, mas tenho perfeita consciência de ter feito o bem. Não basta, mas... um dia chegamos lá!
E pronto, as mentes mais curiosas, já sabem um pouco mais do Dear Zé.
Um dia destes continuamos.