segunda-feira, 27 de julho de 2015

A carreira 21 - "Do you want a chocolate?" ( Nova Paragem )


Fazia já algum tempo que se sentava ali naquele banco da paragem de autocarro. Quase diariamente, mas sem hora marcada, dirigia-se aquele sítio, e aí, por tempo indeterminado, mas sempre antes do anoitecer, passava algum tempo. Não era muito concorrida, pelo menos à hora a que ali estava, fosse ela qual fosse, talvez pela manhã o tivesse sido, pois que havia sempre muitas pessoas à saída, mas à partida eram sempre contadas a dedo.

Chegava, sentava-se e esperava que alguém fizesse o mesmo. Entretanto observava os passantes, escutava os ruídos, sentia a vida que por ali circulava, e esperava. Acabava sempre por vir alguém. Alguém que ficava e que contava algo. Havia sempre uma história, um segredo, uma confissão,um mexerico, um desabafo. Havia sempre algo que dizer, mais não fosse sobre o tempo, e não sobre o tempo que decorria, mas sobre o calor que estava, e que ele tanto gostava.

Há dias pensara em levar uma caixa de chocolates e oferecer aos que consigo partilhavam uma, ainda que curta, conversa. Sorriu e lembrou-se daquela cena do filme do Forrest: life is like a box of chocolates, you never know what you're gonna get... sim, tal e qual como as histórias que ali ouvia, nunca sabia o que dali sairia. Mas achou por bem não o fazer. Nos dias que corriam, as histórias que se ouvia, não ele, mas as que o mundo ouvia, havia sempre que ter cuidado, pois os gestos já não eram tidos como antes, e o que outrora era um agrado, hoje poderia ser uma perversão. E assim, decidiu agraciar as pessoas com um simples "obrigado", um sorriso e o desejo de um bom dia.

Em tempos, frequentara outra paragem, mas achou por bem voltar aquela que o fazia sentir mais próximo das pessoas. Não que a outra fosse menos agradável, não que as histórias que ouvia fossem menos interessantes, não! Mas simplesmente porque as vistas por ali eram bem melhores, e havia sempre mais por onde pôr a vista... oh, se havia!

Olhou o relógio e inclinou a cabeça ao céu, umas pequenas nuvens espaçadas pincelavam-no, mas o sol, daqui a nada ia esbrasear, e portanto, mais se estreitava o tempo que ali tinha. 
Alguém chegaria! Chegava sempre alguém...






2 comentários:

  1. E é tão bom quando chega...sempre alguém!

    :-)

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  2. Zé :)
    Fico contente por te ver nesta paragem.
    E que nada aqui seja visto com perversão mas sempre com agrado, como de costume!
    É bom ler-te de novo!
    Beijinho

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