O vento fustigava as árvores, revirava os guardas-chuva e arrebeirava as saias das senhoras. No céu, um negrume sombrio ao mar, e em terra, as gaivotas voavam desnorteadas, empurradas pelo vento. Começara a chover copiosamente...
Entretanto, lá dentro ouvia-se Bolero, de Ravel. Som que o primo havia recomendado e que naquele dia deliciava a alma.
E num ritmo suave e sereno, passeava-se pelas curvas do seu corpo e afundava a língua por entre os lábios tumescidos do seu sexo. O som dos clarinetes misturava-se com o gemer de uma só voz dela.
E ali permanecia, enquanto a tomava nos meus lábios.
Agora, a chuva sentia-se a bater mais fortemente no vidro da janela, e o vento, enfurecido, orquestrava os andantes e alvoraçava a rua.
http://www.youtube.com/watch?v=8aSptG96MmU