O dia estava quente. O sol espelhava intenso nas vidraças dos edifícios e reflectia no chão preto de alcatrão, o calor. Nas esplanadas, as mesas e cadeiras estavam todas preenchidas, e no ar os pássaros pintavam o céu. Ele tomava o café quando o seu olhar se deteve no passeio, do outro lado da rua. Não chegou a levar a chávena aos lábios e ficou pasmado, meio desacreditado, a olhar. Era a Rosa? Seria mesmo ela? Com uma feição alheada e um tanto ao quanto aparvalhada pensava: Rosa... Rosinha... Rosa... belas mamas, oh meu deus! Ergueu as sobrancelhas, deu um gole e pensou o quão insensível era. Por vezes, talvez até egoísta, mas a Rosinha, fora o seu segundo elo que lhe evocara sentimentos maternais. Primeiro com a sua mãe, aquela que lhe chegara a mama à boca e o alimentara por alguns meses, aquele pulsar de vida transmitido por um mamilo, o toque que nunca lembraria, mas que conseguia imaginar. E depois, anos mais tarde, e já bem lembrado, o toque, o pulsar, o chafurdar, o lamber, e chupar nos lindos seios daquela rapariga grande e rosada de nome condizente. Grandes alegrias. Inesquecível!
E agora, do outro lado da rua, aquela mulher que em tempos lhe saciara os desejos e lhe enchera a boca com... sei lá, talvez meio quilo de carne em cada um dos seios?!, era abastada o suficiente para sobrar nas mãos e na boca. Era! ... agora, aquela mulher estava ali à sua frente, com dois fedelhos pelas pernas e outro no bucho!
Endireitou-se na cadeira para poder observa-la melhor e os seus olhos sombrearam. Estava roliça, o cabelo curto e descuidado, as faces ainda e sempre rosadas, os olhos azuis sem brilho que, talvez a vida e a maternidade lhe roubara, e o que, para ele, fora tanta vezes um aconchego, um alento, uma alegria, um prazer, um orgasmo, as belas e elegantes mamas, eram agora o vislumbre de peles ao dependuro.
Foda-se, tinha que pedir alguma coisa forte para beber e chamou o empregado de mesa. Afogaria as mágoas na bebida para com isso esquecer o tormento que era rever aquele par de mamas.
Beberia, nada! Morcões! Achais mesmo que sim? Dahh, isto é ficção!
Entretanto lá dentro, no monitor piscava a chegada de um e-mail, e um envelope encerrado surgia. A sala estava em silêncio, os estores estavam quase encerrados, e um sumido tic-tac ouvia-se juntamente com o chilrear dos pássaros de lá de fora. Não havia ninguém ali dentro.
Na rua, ele levantara-se da cadeira, enfiara o porta-moedas ao bolso das calças e pegara no telemóvel. Olhou de relance, pela última vez, para a mulher que lhe fizera as maravilhas da puberdade e suspirou. Hesitou em atravessar e ir ter com ela, falar-lhe, ouvi-la, sentir-lhe o riso, cheira-la, tocar-lhe, talvez até conseguir espreitar-lhe pelo rego de carne aconchegado e amparado pelo soutian. Perguntar-lhe pela vida, pelos filhos que trazia agarrados, o que fazia, se era realizada, se tinha ambições, e se era feliz.
Deixa, Zé. Não vás. Na volta até te ignora com medo ou vergonha que os putos contem ao pai. A vida é aquilo que as pessoas querem que seja. Não há acasos, há escolhas. E a tua escolha foi não atravessar a rua e ficar no desconhecimento, e com a lembrança de que a Rosa tinha umas boas mamas.
O telemóvel tocou. Ele caminhava pelo passeio e falava animado:
- Baaaaby, como estás?!!
- Hmm, hmm...
- Ok, como queiras.
- Apanho-te em casa?
- Está bem. Comemos uma francesinha no Cufra e depois... depois logo se vê.
- Beiiiijo.
Parou de caminhar para ler o e-mail recebido. Sorriu e pensou: Primaço, ando às gajas!!