terça-feira, 23 de abril de 2013

Lá fora na rua...



          O dia terminava. Estivera quente e agora que o sol se punha, nas casas, as janelas estavam abertas, escancaradas, deixando o ar ameno entrar, e a azáfama do interior sentia-se e ouvia-se.


          Entretanto ele tinha entrado no prédio e aguardava a chamada do elevador. A Dª Cândida, uma simpática septuagenária do 1º andar queixava-se dos bandalhos que lhe enchiam a caixa de correio com publicidade, apesar do aviso colado mesmo à frente dos olhos. Perguntava pela família, pela vida, pelo trabalho, pela esposa que não tinha: Ai é verdade, o menino não é casado, esqueço-me sempre! Mas sempre perguntava! Contava dos netos e dos cursos no estrangeiro, dos filhos ausentes, das noras... bem, das noras nem vale a pena falar, dizia ela, e das receitas de culinária que lhe havia sugerido e se já experimentara.
E lá se despediu com um beijo babado na face e um rebuçado. Sim, dava-lhe sempre um rebuçado de goma, duro, intragável, mas dado com a maior das alegrias e vontades.
Ele sorriu-lhe. Devolveu-lhe o beijo, baixando-se, acolheu o rebuçado na palma da mão, sacado do porta-moedas preto de mola, e agradeceu recebendo de volta um piscar de olho azul e um sorriso matreiro de quem dá uma guloseima, à socapa, a um garoto. Ela voltou costas girando no seu tacão preto do sapato, comprado talvez há décadas, nas lojas da Baixa, e ele ficou ali parado em frente ao elevador, abanando a cabeça e vendo-a sumir-se por detrás da porta que dava acesso às escadas. Percurso que ela fazia questão de tomar todos os dias por forma a exercitar as pernas.

A porta do elevador abriu e ele entrou pensativo. Levantou a mão para marcar o andar e hesitou. Baixou o braço, encostou-se à parede do elevador e relembrou as palavras: "Cuidado Mr. Zé. Nunca desejes a vizinha do sexto esquerdo.". E mais depressa pensava, tão rápido o número seis seleccionava. À medida que subia, revia os números e as pessoas que no respectivo andar moravam. Um suave solavanco no elevador deu sinal de que tinha chegado ao destino. A porta abriu e mais uma vez hesitou. Já a porta corria a fechar, quando ele com a mão a deteve, e abriu de novo. Saiu.

Olhou para a direita e voltou-se de frente para a porta do 6º esquerdo. Um cheiro característico sentia-se no ar, aliás como em cada um dos andares, e todos eles diferentes.  Deu dois passos em frente e parou. Sorriu para si e mais uma vez lembrou: "Cuidado Mr. Zé. Nunca desejes a vizinha do sexto esquerdo. Entre a voluptuosidade esconde um segredo para o qual não estás preparado...." Raios! Mas porque raios não lhe saía esta frase da cabeça?! Parvoíce, Zé. Esquece lá isso! Chamou o elevador e desceu.


          Na rua, a poente, o céu misturava o vermelho com o laranja, antevendo o calor para o dia seguinte. No prédio do lado oposto da rua, à janela, uma mulher, de máquina fotográfica pousada no parapeito olhava fixamente em frente, como que estivesse à espera de ver alguém a aparecer. E ali permaneceu por algum tempo, correndo a mão dentro da camisa meio desabotoada que trazia vestida... 








( a continuar... )

38 comentários:

  1. Porra, moras ali?! Também quero!!!

    O EDT bem te anda a avisar da vizinha do 6º.:-)

    R.

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    1. Porra, não me importava, não! :)))
      Não sei se será a voluptuosidade se será o segredo que mais me chama... a ver vamos. ;)

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  2. Anónimo23.4.13

    era assim que eu gostava de escrever. bonito.

    :))) grande Zé. és lindo, homem :)

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  3. Ai a vizinha do sexto esquerdo! ;)
    Zé, não te percas homem...

    Muito bom, aguardo pela continuação.

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    1. Esperemos bem que não! :))
      Obrigado.

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    2. A menina já fez o arrozinho de polvo?

      Jokas

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    3. Ainda não Leão, era para ser naquele dia,não deu... depois o FDS em caos...e tenho adiado! Mas assim que fizer dou-te o feedback!
      Beijinhos

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    4. Ia bem um arrozito para a janta.

      R.

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    5. R. por aqui andamos a chá!
      Mas o menino não cozinha?

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    6. Sim, mas sem grande paciência para o fazer por estes lados. Estava à espera de um repasto já preparado :-)

      R.

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    7. Percebo-te...Nem sempre temos disposição, sabe bem chegar a casa e ter tudo preparado ;)

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    8. R., não haverá por ai uma vizinha???

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    9. Sim, ó R. anda lá, chiba-te! Diz lá se não tens por aí uma ou duas vizinhas, espanholitas, todas fogosas, todas malucas, pulsantes e tesudas. E que todas as noites, ora uma ora outra, dançam para ti uma sevilhana e te fazem uma paella, além de outras coisas, igualmente degustativas. Hã... conta mi hermano, conta!
      :)))

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    10. humildemente, só me estava a referir ao facto de teres uma vizinha que te prepare um arroz de polvo...o Zé, elevou a fasquia!

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    11. Eh pá, quando comecei a ler, e por momentos, percebi 'todas malucas, e peludas...' Ahahah!!!

      Vizinhas mal as vejo. É só vivendões, com muros de 3 metros. Nem dá para espreitar. Vou ver se arranjo umas giraças no supermercado onde vou às compras :-)

      R.

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    12. Minha querida Solana, humildemente o Zé só quis saber detalhes! hehehehe o arroz é para o final :)))

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    13. R. PULSANTES, TESUDAS!
      Toca-lhes à campaínha, diz que és o homem dos arranjos. Arranjas tudo e ainda as pões com um sorriso nos lábios!
      :))))

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    14. Misturei pulsantes e tesudas. Eheh!!!

      Levo a caixa de ferramentas, o meu melhor sorriso, e está feito :-)

      R.

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    15. e espanholas! E uma portuguesinha pelo meio!
      Boom baby!

      :)))))))))))))))))))))))))

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    16. Muita confusão...não achas?

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    17. Achas? Já cá tive mais gente! hehehehehe
      Por supuesto Solana.
      Nem gosto de espanholas, são umas regateiras, falam muito alto e não são muito certas.
      Verdad R?

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    18. Falam muito e falam alto. Mas andam por aqui algumas bem simpáticas :-)

      R.

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  4. O fruto proibido (neste caso, a vizinha) é sempre o mais apetecido.....

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    1. Sempre assim foi. :)))

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    2. E sempre assim será, o proibido alimenta a mente, faz-se desejar....

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  5. Anónimo23.4.13

    Magnifico pormenor de enquadramento literário este:
    " Ai é verdade, o menino não é casado, esqueço-me sempre!"

    Delicioso!

    Abraço

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    1. Ei, ó Mr, não sejas ordinário, a Sra. tem 70 e tais.
      :)))

      Abraço

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  6. Anónimo23.4.13

    Foda-se, primo, a gaja do sexto esquerdo é transexual, pá!

    (anda vidrado naquelas mamas, que passa-lhe tudo ao lado) :))))

    [embora adore a minha casita, imagino-me a morar nesse prédio da foto...no sexto. Direito!) eheheheh

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    1. Primaço, o bom das histórias e de sermos o autor, é o facto de podermos fazer e desfazer para nosso bel-prazer.
      De modos que, não sei se te ponho no 6º direito, a ser acordado a meio da noite pela vizinha do esquerdo. :)))))))))))))

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    2. Anónimo23.4.13

      E quem te disse que eu reclamava????

      (em tempo de guerra...e ela tem umas mamocas...) ahahahah

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    3. Hehehehe, e depois de umas garrafitas de alorna, marcha tudo... quer dizer, quase tudo. Alto lá!
      :))))

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    4. Anónimo24.4.13

      Já te "vi" mais distante do sexto esquerdo... :))))))))

      Bom dia, primo.

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    5. Bom dia!
      Um homem nunca deve recusar oportunidades, Leão.
      ;)

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  7. OH ZÉ, até corei homem... sou eu? ahahahah
    (se sim, morena, olhos verdes, estatura média, maminhas pequenas mas tesudas :P)

    (a dª cândida dve ter sido endiabrada em mais nova, deve....
    just saying :P)

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  8. * até corei v-i-r-g-u-l-a homem (LOL)
    (falta de pontuação)

    ps - não tenho câmara fotográfica, uso o telemovel, mas isso são detalhes, quero lá saber. continua, continua...

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    1. Dear Zé tarda, mas não falha. O prometido é devido! A seu tempo lá chegaremos... continuarei. :)

      (é bom saber desses detalhes, adoro detalhes, é a parte mais saborosa)

      ;)

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